Abismo na educação
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Fonte: Folha de São Paulo
SÃO PAULO - Os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano dos
municípios brasileiros (IDHM) mostram que o país melhorou bastante ao longo das
últimas duas décadas. Numa das mensurações mais eloquentes, 85,8% das cidades
registravam um índice classificado como "muito baixo" em 1991, proporção esta
que passou a 0,6% em 2010.
Dadas as boas notícias, passemos a analisar os desafios. O IDHM é composto
por três dimensões: renda, longevidade e educação, e todas elas evoluíram
positivamente nestes 20 anos. O que chama a atenção, entretanto, é que a
educação, mesmo sendo a área que mais avançou, é também a que puxa a nota global
dos municípios para baixo. O desempenho do país nesse campo ficou na faixa do
desenvolvimento "médio", enquanto a renda e a longevidade receberam
respectivamente as qualificações "alta" e "muito alta".
Este é, se quisermos, o retrato do dilema em que o Brasil se encontra. A
maioria dos municípios deixou para trás o cenário de terra arrasada, no qual
nada funciona, e já apresenta alguma estrutura capaz de propiciar ensino e saúde
à população. Para avançar a partir daqui, porém, precisaremos cada vez mais de
educação e o problema é que, apesar das melhorias, ela ainda é péssima. Vale
observar que o IDHM utiliza apenas indicadores que aferem os anos de estudo, sem
levar em conta a qualidade do ensino ministrado --que é, de longe, a nossa
principal falha.
Os sinais desse fosso educacional, que faz com que menos da metade dos jovens
concluam o ensino médio, já são visíveis por todos os lados. Empresas têm
dificuldades em preencher vagas para trabalhadores mais qualificados. Faltam
médicos e engenheiros. Contingentes expressivos dos bacharéis em direito não
conseguem passar na prova da OAB.
O pior de tudo é que não há muito o que se possa fazer para mudar esse
panorama num horizonte relativamente curto de tempo.