segunda-feira, 25 de agosto de 2014

0comentários

Professora tenta suicídio duas vezes após agressões de alunos
Comentários 86

Ricardo Senra e Renata Mendonça
Da BBC Brasil, em São Paulo
Compartilhe57615
Imprimir Comunicar erro
  • BBC Brasil
    A professora Liz*, que diz ter sido atacada diversas vezes por alunos, pediu para não se identificar por medo de represálias A professora Liz*, que diz ter sido atacada diversas vezes por alunos, pediu para não se identificar por medo de represálias
"Dou aula de porta aberta por medo do que os alunos possam fazer. Não dá para ficar sozinha com eles", diz Liz*, professora de inglês de dois colégios públicos da periferia de São Paulo.

Em 15 anos de aulas tumultuadas e sucessivas agressões (de ameaças de morte a empurrões e tapas na frente da turma), a professora chegou a tentar suicídio duas vezes – primeiro por ingestão de álcool de cozinha, depois por overdose de remédios.

"Me sentia feliz quando comecei a dar aulas. Hoje, só sinto peso, tristeza e dor", diz.

A violência contra professores foi destacada por internautas em consulta nas redes sociais promovida pelo #salasocial, o projeto da BBC Brasil que usa as redes para obter conteúdo original e promover uma maior interação com o público.

Em posts no Facebook e no Twitter, leitores disseram que a educação deveria merecer mais atenção por parte dos candidatos a cargos públicos.

Segundo o psiquiatra Lenine da Costa Ribeiro, que há 25 anos faz sessões de terapia coletiva com educadores no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, o trauma após agressões é o principal motivo de licenças médicas, pânico e depressão entre professores. "Mais do que salários baixos ou falta de estrutura", ressalta.

O problema, de acordo com especialistas consultados pela BBC Brasil, seria resultado da desvalorização contínua do professor, do descompasso entre escolas e expectativas dos alunos e de episódios de violência familiar e nas comunidades.


Lápis afiado
 

A primeira tentativa de suicídio aconteceu assim que Liz descobriu que estava grávida. "Quando vi que teria um filho, fiquei desesperada. Eu não queria gerar mais um aluno", diz a professora, que bebeu álcool de cozinha e foi socorrida pela mãe.

A segunda aconteceu em abril do ano passado, após agressões consecutivas envolvendo alunos da primeira série de uma escola municipal e do terceiro ano do ensino médio de um colégio estadual, ambos na zona sul de São Paulo.

"Começou com um menino com histórico de violência familiar. Ele atacava os colegas e batia a própria cabeça na parede. Um dia, para chamar minha atenção, ele apontou um lápis bem apontadinho e rasgou o rosto de uma 'aluna especial' que sentava na minha frente", relata.

Ela conta que o rosto da aluna, que tem dificuldades motoras e intelectuais, ficou coberto de sangue. "Violência gera violência", diz Liz, ao assumir ter agredido, ela mesma, o menino de 6 anos que machucou a colega com o lápis.

"Empurrei ele com força para fora da sala. Depois fiquei destruída", conta. Na semana seguinte, diz Liz, um aluno de 16 anos a "atacou" após tentar mexer em sua bolsa.

"Ele disse que a escola era pública e que, portanto, a bolsa também era dele. Eu tentei tirar a bolsa, disse que era minha e então ele pulou em cima de mim na frente de todos", relata.

O adolescente foi suspenso por seis dias e voltou à escola. O mesmo não aconteceu com Liz, que pediu licença médica e se afastou por um ano. "Não me matei. Mas não estou convencida a continuar vivendo", diz.


Quadro negro e giz
 

A professora de inglês diz que a gota d'água para buscar ajuda de um psiquiatra foi quando percebeu que estava se tornando "muito severa" com a própria filha, de 6 anos. "Ali eu vi que estava perdendo a vontade de viver", diz. "A violência na escola é física, mas também é moral e institucional. Isso acaba com a gente", afirma.

A educadora diz que, nas duas oportunidades, não procurou a polícia por "saber que nada seria feito e que os policiais considerariam sua demanda pequena perto das outras".

Para a educadora, o modelo atual das escolas estaria ultrapassado, o que tornaria a situação mais difícil. "Na sala de aula, eu dou aula para as paredes. E se o aluno vai mal, a culpa é nossa. Essa culpa não é minha, eu trabalho com quadro negro e giz. Enquanto isso, os alunos estão com celular, tocando a tela", observa.

Em tratamento contínuo, ela diz que está, aos poucos, se afastando do ensino na rede pública. "Dou aulas particulares também. E estes alunos eu vejo crescendo, progredindo", diz.

Abandonar a escola, diz a professora, seria o caminho para resgatar sua autoestima. "A alegria do professor é ver o progresso do aluno. É gostoso ver o aluno crescer. A classe toda tirar 10 é o maior prazer do mundo, vê-los entrando na faculdade é a nossa alegria", diz. "Mas não é isso o que acontece".

*A pedido da professora, o nome real foi mantido em sigilo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Carta do reitor Marco Antonio Zago da USP dando "boa vindas" aos alunos no segundo semestre letivo

0comentários

Boas vindas para quem se a USP está em greve?

Bem vindos ao segundo semestre de 2014

Aos estudantes da Universidade de São Paulo,

Quero dar-lhes as boas vindas neste início do segundo semestre letivo e aproveitar este momento para divulgar algumas das iniciativas da Universidade, que miram reafirmá-la como a maior e mais vigorosa da América Latina. Há 80 anos, a USP é exemplo de instituição pública que formou e continuará formando cidadãos provenientes das mais diversas regiões e origens.

Antes de tudo, temos que comemorar, pois começamos o semestre sob a égide de uma excelente notícia: a volta da EACH ao campus da USP Leste. São cerca de 4.500 estudantes de graduação, além de alunos de pós-graduação, docentes e servidores, que retornam à sua casa. É apenas o começo de uma longa jornada para restaurar os padrões de respeito ao meio ambiente, do qual temos obrigação de ser exemplo, como universidade pública.

Orientada no sentido de aprofundar as conquistas que asseguram, há décadas, o acesso de milhares de estudantes gratuitamente ao melhor ensino superior oferecido no país, a Reitoria enfrenta os desafios de contornar uma séria crise financeira, sem descuidar de inovar e implantar propostas novas, com o objetivo de aprimorar a formação de nosso corpo discente.

As Pró-Reitorias e a Superintendência de Assistência Social (SAS) têm proporcionado, a mais de 6.500 alunos, acesso a diferentes modalidades de bolsas, que permitem sua manutenção na Universidade e consolidam as políticas de permanência estudantil. Necessário ressaltar que, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pela USP, o Conselho Universitário aprovou proposta do reitor de manter os recursos para os programas de permanência estudantil. De fato, vou trabalhar para expandi-los. Vale enumerá-las, dada sua abrangência:

Bolsas / Apoios:

  • Moradia / vaga
  • Moradia / auxílio financeiro: bolsa mensal
  • Auxílio transporte (mensal)
  • Bolsa alimentação (período letivo)
  • Bolsa livros (mensal)
  • Bolsa Aprender com Cultura e Extensão (mensal)
  • Bolsa Ensinar com Pesquisa (mensal)
  • Bolsa Estímulo ao Ensino de Graduação (mensal)
  • Bolsa de Iniciação Científica (mensal)
  • Bolsa da Escola Politécnica (em parceria com a Associação de Engenheiros Politécnicos / mensal)
  • Bolsa Afinal (para alunos da Faculdade de Medicina)
  • Bolsas de Intercâmbio Internacional

Mas são necessários mais projetos com ênfase nos estudantes de Graduação e, por esta razão, estamos implantando iniciativas que focam, por exemplo, o ensino de língua inglesa, o projeto Rugby USP e a Taça USP, estes dois últimos em conjunto com a Liga Atlética da USP (LAAUSP).

Com a mesma intenção, voltamos nossas atenções e energia para o vestibular, aumentamos os bônus para inclusão social já em 2014 e iniciaremos, a partir deste semestre, a discussão sobre os mecanismos alternativos de ingresso na Universidade. Uma instituição pública como a USP, em um país como o Brasil, precisa acolher mais estudantes que, sem ações planejadas, não teriam oportunidade de cursar esta que é uma referência não só no ensino, mas em pesquisa, cultura e extensão.

Nossa Pós-Graduação é a maior do Brasil: temos, hoje, 25.460 alunos (11.624 de Mestrado e 13.836 de Doutorado), matriculados em 257 programas credenciados pela Capes. Os programas da USP representam 7% dos programas de pós-graduação do país e correspondem a 33% entre aqueles que recebem a melhor avaliação e que são considerados de excelência internacional. As melhores teses defendidas na USP recebem, anualmente, o prêmio “Tese Destaque USP”, já em sua terceira edição.

Mais de 70% dos pós-graduandos recebem bolsas das agências de fomento federais (CNPq e Capes) e estadual (Fapesp) e de outras instituições. Além disso, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação concede bolsas PAE - Programa de Aperfeiçoamento de Ensino, que permitem a mestrandos e doutorandos participarem, sob a supervisão de docentes, de atividades de ensino na Graduação, aprimorando a sua formação didática. Em 2014, com recursos da Capes, iniciamos a publicação de artigos e livros de autoria de alunos de pós-graduação, fortalecendo a divulgação e a visibilidade da produção científica.

Convicto de que somos uma instituição pública que deve ser cada vez mais acessível a todos, não descuidamos em oferecer atenção aos alunos em diferentes âmbitos. Assim, mossas instalações permitem, de um lado, manter bibliotecas com acervos valiosíssimos, mas também serviços que são fundamentais para nosso corpo discente, como os restaurantes.

Mas, nossa Universidade tem, ainda, o privilégio de ser um polo importantíssimo na vida cultural de São Paulo. Ela abriga quatro museus, uma orquestra sinfônica profissional, uma orquestra de câmara e um coro formado exclusivamente por alunos, além de diferentes grupos corais constituídos por professores, alunos e funcionários, que se apresentam regularmente, ao lado de variadíssima programação de artes visuais, teatro e cinema, sempre acessível a toda a comunidade acadêmica. Creio que é chegada a hora de que os estudantes promovam uma vida cultural muito mais intensa, contando com apoio irrestrito da Reitoria.

Neste semestre, terão continuidade as discussões organizadas para reforma da governança da USP. Sempre foi grande anseio dos estudantes participarem mais ativamente do movimento de democratização da Universidade. Todos os estudantes estão convidados a participar intensivamente dessa fase preparatória, para elaborar as propostas que serão encaminhadas para votação. Conto com a participação de todos, como tive pessoalmente a oportunidade de participar da reforma dos anos de 1968/1969. Sei que os representantes discentes participam, mas isso não é suficiente. Queremos a contribuição de cada um de vocês, pois os estudantes da nossa Universidade têm ideias e propostas e sua voz precisa ser ouvida. Sem intermediários!

Desejo, portanto, que usufruam intensamente de todas as oportunidades que a Universidade tem a oferecer e façam de sua permanência nela uma experiência valiosa, profunda, inesquecível, mas também alegre e de boas lembranças.

Tenham todos um grande semestre!

Cordialmente,

Marco Antonio Zago

Reitor
 

EducAction © 2010

Blogger Templates by Splashy Templates